NO “CREPÚSCULO” DO SOL DE JUSTIÇA – parte I

Por Plinio Corrêa de Oliveira

dez09_capa_00

O agravamento de um fenômeno que, de si, não deveria existir, poderia poupar pelo menos a festa do Nascimento do Salvador.

Refiro-me à laicização generalizada das mentalidades, da cultura, da arte, das relações — em uma palavra, da vida. Nesta matéria, laicização significa propriamente paganização.

Pois, à medida que se vai empurrando para a penumbra o Homem-Deus, o lugar deixado vazio por Ele vai sendo preenchido por “valores” muito concretos e palpáveis, mas que por vezes são glorificados como se fossem faustosas abstrações: a Economia, a Saúde, o Sexo, a Máquina, e tantos outros (as maiúsculas anacrônicas servem para que melhor se sinta o que afirmo). “Valores” materiais, é óbvio. E enfatizados por uma orquestração propagandística saturada de marxismo, de freudismo, etc.

Ao contrário do que acontecia no mundo clássico, esses “valores” não são personificados em deuses, bem entendido, nem concretizados em estátuas. O que não impede que sejam eles os verdadeiros ídolos pagãos de nosso infeliz mundo laicizado.

A influência do neopaganismo laico vem infiltrando cada vez mais o Natal moderno. Infiltração gradual, mas perfeitamente óbvia. De que maneira? Não de uma só maneira, mas simultaneamente de todas as maneiras concebíveis.

*    *    *

A começar no Advento. Esse período, que no ano litúrgico compreende as quatro semanas antecedentes ao Natal, constituía para a Cristandade uma parte do ano especialmente voltada para o recolhimento, para uma discreta compunção e para a esperança palpitante do grande júbilo que o nascimento do Messias trará. Todos se preparavam assim para acolher o Menino-Deus que, no virginal sacrário materno, se acercava, dia a dia mais, do momento bendito em que iniciaria sua convivência salvífica com os homens.

Nessa atmosfera densa e vividamente religiosa, a tônica se ia gradualmente deslocando. À medida que se aproximava a noite entre todas sagrada, a compunção ia cedendo lugar à alegria. Até o momento em que, nas pompas festivas da Missa do Galo, as famílias, os povos, as nações se sentiam ungidos pelo júbilo sacral descido do mais alto dos céus; e em cada cidade, em cada lar, no interior de cada alma se difundia, como um bálsamo de celeste odor, a impressão de que o Príncipe da Paz, o Deus Forte, o Leão de Judá, o Emanuel, mais uma vez acabava de nascer. Stille Nacht, Heilige Nacht... a canção célebre que se transpôs para nosso vernáculo, de modo menos expressivo, como Noite Feliz.

De toda essa preparação, o que restou? Do Advento, quem hoje cogita senão uma minoria ínfima? E dentro dessa minoria ínfima, quantos o fazem sob a influência da verdadeira teologia católica e tradicional, e não das teologias ambíguas e desvairadas que sacodem hoje em dia o mundo cristão, como se fossem convulsões de febre?

*    *    *

 

nataleuropeuMas deixemos de lado essa minoria, e pensemos nas multidões que se agitam nas grandes cidades. Por elas, o Advento pura e simplesmente não é lembrado. A correria de todos os dias continua, agravada pela perspectiva das despesas a enfrentar, dos presentes a enviar, das visitas a fazer e das festas ou festinhas a organizar.

Em suma, todo o mundo se vai aproximando do Natal, não como de uma data para a qual se caminha com esperança, mas como de um dia afanoso, dispendioso e, sob alguns aspectos, até complicado, que se terá alegria em “deixar para trás”.

É bem verdade que nas cidades, e talvez mais especialmente nas grandes, a aproximação do Natal é salientada pela multiplicação das lâmpadas coloridas na vegetação dos jardins dos bairros residenciais, pelos longos fios de luzes nas avenidas de maior trânsito e pela ornamentação carregada das vitrinas comerciais.

Contudo, não é difícil sentir que a alegria peculiar que isso tudo tende a “aquecer” — alegria toda induzida, note-se — provém do desejo de comprar, de gozar, de festejar. Dessas luminárias elétricas, nada ou quase nada lembra o Messias que está para chegar.

E tudo lembra, isto sim, a economia ansiosa de ser superativada: o comércio que palpita por ampliar a saída de seus estoques e a indústria que multiplica seus produtos (e seus lucros), para preencher os vazios abertos nas prateleiras das lojas em virtude do aumento do consumo. Em suma, é o ídolo-Economia que se vai tornando o grande centro das expectativas, dos anelos e dos festejos natalinos deste fim de século. Mamon. O Estômago. A Matéria — Jesus, não!…

*    *    *

Chega por fim o Natal. Reúne ele ainda os lares em torno de um presépio? Por vezes, sim. Porém, em numerosos casos, os reúne não em torno da manjedoura onde o Menino-Deus abre os braços para Maria Santíssima profundamente enternecida, sob as vistas meditativas e recolhidamente jubilosas de São José; mas sim em torno de uma mesa em que as guloseimas, a champanha dos que podem e as modestas bebidas dos que não podem, ocupam as atenções outrora voltadas fundamentalmente para o Nascimento do Redentor.

Em quantos lares a redução e a transparência cada vez mais acentuada dos trajes espalham uma atmosfera de sensualidade, desvirtuando profundamente o significado dessa noite de inexcedível pureza.

Há os festejos sob cuja influência a caridade se encolhe e se estende sempre menos, nos lares dos que nada têm. Nestes, as larguezas difundidas outrora pela justiça e pela caridade cristãs são substituídas pelo silvo da subversão “católica” que, sob o pretexto do Natal, se faz ouvir pela voz do (ou da) agente de uma comunidade de base qualquer. Ou de coisa quejanda.

Na realidade, porém, o neo-Natal laico tem ainda outro aspecto. O tufão do turismo arranca incontáveis famílias do lar — o qual deve ser, com a igreja e a matriz, o quadro específico da noite de Natal — e as dispersa através dos hotéis, da praia ou do campo, em meio a um bulício mundano no qual não conseguem penetrar as vozes angélicas que cantam o Gloria in excelsis Deo.

*    *    *

 

festadaapresentacaoMas a laicização não pára aí. Ela persegue o Natal até nos ecos augustos com que ele se prolonga nas festas que o seguem. Ano Bom, Reis…

A festa de Ano Bom é, em termos religiosos, a festa da Circuncisão. Lembra Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual, movido pelo amor ao gênero humano, derrama já em sua primeira infância gotas de seu sangue infinitamente precioso, em favor dos homens. E assim faz já pensar no Sacrifício augusto que os redimirá do pecado, os arrancará da morte eterna e lhes abrirá o caminho do Céu.

A esta festa religiosa do Deus-Menino se sobrepõe a comemoração salobre de uma laicíssima confraternização universal dos povos. Confraternização irremediavelmente vazia, como tudo quanto é laico, e da qual parecem gargalhar cinicamente as muralhas que retalham os povos, o terrorismo que os apavora, o risco da destruição atômica que pesa sobre eles como uma nuvem plúmbea, e a sarabanda cada vez mais carregada de antagonismos e ódios, das idéias e dos interesses incompatíveis e inconciliáveis.

Em uma palavra, quando o sol se põe, os animais malfazejos saem de suas tocas e passeiam pela selva. O laicismo apresenta Jesus Cristo aos olhos do mundo como um sol em fim de ocaso. Que espanto há em que prolifere e se difunda tudo quanto é daninho nos antros dos corações descristianizados, das cidades enlouquecidas e das solidões em que o vício e o crime se escondem, para à vontade multiplicarem o requinte pelo requinte?

Mas — dirá alguém — por que lembrar tudo isso nesta quadra de alegria? Por que esse choramingo, no momento em que os homens estão ávidos de rir e de festejar?

Para protestar. E se esse protesto soa como choramingo a algum ouvido amortecido pela cacofonia moderna, o defeito não é do protesto. O defeito é de quem não sabe sentir nele senão o que ele não é: um choramingo.

Pois o choramingo é pusilânime, soa a derrota e capitulação, enquanto o protesto — inspirado pelo amor a Cristo, Rei vencedor, e a Maria “Terribilis ut castrorum acies ordinata” (Terrível como um exército em ordem de batalha — Cant. VI, 3 e 9) — se ergue com desassombro em meio à incompreensão. Esse protesto é um brado de reparação, uma proclamação de inconformidade. E, mais do que isto, um prenúncio de vitória.

Fonte: Catolicismo

Compartilhe:

Share on facebook
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on twitter
Share on email

1 Comentário

  • Graças a Deus ainda existem textos que englobam sucintamente tudo que existe das forças ocultas do mal.Este texto reflete bem atualmente as Bíblicas cartas de São Paulo.DJK

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe:

Share on facebook
Share on whatsapp
Share on telegram
Share on twitter
Share on email

Cadastre-se:

Mais postagens

Inclua agora seu nome na Missa de Nossa Senhora de Fátima.

Basta ligar para:

0800 608 2128

DÚVIDAS

Clique nas perguntas para ver as respostas

Quando você quiser. Trata-se doação espontânea e não de um título comercial que poderá ser protestado. Para cancelar basta ligar para (11) 4368 2253 ou até nos contatar por outros canais. Mas lembre-se que a sua doação é a forma de participar de um apostolado e até receber graças.

O Grupo Exército da Medalha Milagrosa é formado por pessoas que acreditam na intercessão de Nossa Senhora das Graças através da Medalha Milagrosa e querem espalhar essa devoção pelo Brasil, atendendo ao pedido que Ela fez: “Faça cunhar uma Medalha por este modelo…”. Nossa Senhora pode contar com você?

Quando fazemos algo que nos custa algum sacrifício, isso tem mais méritos aos olhos de Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia. Quanto mais você fizer pela Virgem Maria, mais graças estará atraindo para a sua vida. Economizando uma moedinha por dia, 1,00 Real, ao final do mês você terá condições de participar do Grupo Apóstolos de Fátima. Faça um voto de fé e experimente.

Bem, além do cartão de crédito você pode nos ajudar de outras formas. Mas você também pode ver se algum familiar pode lhe emprestar seu cartão de crédito para debitar essa doação. Ele também será incluído nas Missas. Muitas vezes você pode utilizar um cartão de uma loja de departamento, até supermercado. Como um cartão da Riachuelo, C&A, etc., desde que tenham a bandeira VISA ou Mastercard.

Não precisa se preocupar. Nós contratamos um sistema de SITE SEGURO, exatamente como os bancos. Na hora de preencher seus dados no site, veja que terá um cadeadinho no canto superior esquerdo da tela. Ele á a garantia de um site 100% seguro. Pode confiar e ir em frente.

PARABÉNS. São poucas as pessoas que realmente agem para fazer o bem, sem egoísmo. Mas, pessoas como você, geralmente são mais solicitadas dos que os que nada fazem. E Deus, que a tudo vê, saberá recompensá-las. Faça esse gesto por Nossa Senhora de Fátima. Faça como uma promessa ou voto de fé. Ela certamente escutará as suas preces e lhe atenderá.

Claro. Mas lembre-se da Virgem Maria quando o Arcanjo Gabriel lhe perguntou se Ela queria ser a mãe do Messias. Mesmo pobre e mocinha ELA DISSE SIM, sem deixar para depois, afinal, era um pedido do Espírito Santo. Será que a Virgem Maria não está esperando o seu SIM bem agora? Por que deixar para depois?

Pense que a sua ajuda nos permitirá levar este símbolo de Proteção e Bênçãos Marianas a muitas famílias que necessitam. E lembre-se que você contará com missas semanais, terá seu nome levado até o Santuário de Nossa Senhora das Graças e outros presentes. Tudo para lhe agradecer por essa valiosa ajuda. Além disso, você certamente contará com as graças de Maria em sua vida.

Muitos pensam que Missa só se manda celebrar para os falecidos. Ao contrário, ter missas em nossas intenções, enquanto estamos nessa terra, é muito importante. Por isso decidimos por esta forma de lhe agradecer pela sua generosa doação, com este presente de valor infinito. Cada Missa é a renovação do sacrifício de Nosso Senhor.

Sem problemas. Nossa Senhora das Graças quer a ajuda daqueles que o fazem com generosidade e sinceridade. Uma doação obrigada nunca será bem vinda para um apostolado mariano com a missão de difundir a devoção a Nossa Senhora das Graças e a Medalha Milagrosa. Uma doação generosa e dada de boa vontade atrairá bênçãos para você, para sua família e para toda essa obra apostólica.

Abrir bate-papo
Escanear o código
Olá 👋
Podemos ajudá-lo?