Lúcia: O Francisco não parecia irmão da Jacinta! Clique aqui e entenda.
Lúcia, em seus manuscritos, narra fatos sobre a personalidade de Francisco. Leia a seguir.
Vou começar, por escrever o que o bom Deus me queira fazer lembrar do Francisco. Espero que Nosso Senhor lhe faça conhecer, no Céu, o que a seus respeito escrevo na terra, para que, junto de Jesus e Maria, interceda por mim.
A amizade que me unia ao Francisco era apenas a de parentesco, e a que consigo traziam as graças que o Céu se dignava conceder-nos.
O Francisco não parecia irmão de Jacinta, senão nas feições do rosto e na prática da virtude. Não era como ela caprichoso e vivo. Era, ao contrário, de natural pacífico e condescendente.
Quando, nas nossas brincadeiras, algum se empenhava em negar-lhe os seus direitos, por ter ganhado, cedia sem resistência, limitando-se a dizer apenas: “Pensas que ganhaste tu?! Pois sim! A mim, isso não me importa!”
Não manifestava, como a Jacinta, a paixão pela dança; gostava mais de tocar flauta, enquanto os outros dançavam.
Nos jogos, era bastante animado; mas poucos gostavam de jogar com ele, porque perdia quase sempre. Eu mesma confesso que simpatizava pouco com ele, porque o seu natural pacífico excitava por vezes os nervos da minha demasiada vivacidade.
Às vezes, pegava-lhe por um braço, obrigava-o a sentar-se no chão e mandava-lhe ficar quieto, e ele obedecia-me como se eu tivesse uma grande autoridade. Depois, sentia pena, ia buscá-lo pela mão, e vinha com o mesmo humor, como se nada tivesse acontecido.
Se alguma criança tirava-lhe alguma coisa que lhe pertencesse, dizia: “Deixa pra lá! A mim, que me importa?!”
Quando, aos 7 anos, comecei a pastorear o meu rebanho, ele pareceu ficar indiferente. Lá ia à noite esperar-me com a sua irmãzinha, mas parecia ir mais por lhe fazer a vontade do que por amizade.
Iam esperar-me no pátio de meus pais. E enquanto a Jacinta corria a meu encontro, logo que sentia os chocalhos do rebanho, ele esperava-me sentado nuns degraus de pedra, que havia em frente a porta de casa.
Depois íamos para a velho monte brincar, enquanto esperávamos que Nossa Senhora e os Anjos acendessem as suas candeias.
(Eles acreditavam que ao anoitecer as estrelas e a lua eram candeias acendidas por Nossa Senhora e os Anjos).
Animava-se também a contá-las, mas nada o encantava tanto como o lindo nascer e pôr do sol.
-“Nenhuma candeia é tão bonita como a de Nosso Senhor” -dizia ele à Jacinta, que gostava mais da de Nossa Senhora, porque, dizia ela, “não faz doer a vista”.
Fonte: Irmã Lúcia, o Segredo de Fátima.
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