A igreja celebra hoje o dia de São Bernado de Claraval, conhecido como caçador de almas.
Seu nome significa “batalhador e valente”. Tinha uma incrível capacidade de persuasão com a qual levou centenas de homens aos pés de Cristo, incluindo toda a sua família. Foi conselheiro de reis e Papas, escreveu vários livros e uma das orações mais formosas à Virgem. Era conhecido como “o caçador de almas e vocações” e “o oráculo da cristandade”.
São Bernardo de Claraval nasceu no castelo de Fontaine-les-Dijon, localizado na Borgonha (França), em 1090. Sua família pertencia à nobreza francesa, pois seu pai Tescelino era um dos cavaleiros do Duque de Borgonha e sua mãe Alice era filha de um poderoso senhor feudal chamado Bernardo de Montbard. Foi o terceiro de sete filhos.
Quando sua mãe morreu, o jovem voltou seus olhos para a Virgem Maria, por quem tinha uma forte devoção durante toda a sua vida. Compôs o “Lembrai-vos”, uma de suas mais belas orações marianas.
Trouxemos hoje uma bela oração a Nossa Senhora que foi composta por este santo. Reze:
Oração a Nossa Senhora, composta por São Bernardo de Claraval
“Ó doce Virgem Maria, minha augusta soberana, minha amável Senhora, minha Mãe amorosíssima, ó doce Virgem, eu coloquei em Vós toda minha esperança e eu não serei confundido.
Doce Virgem Maria, eu creio tão firmemente que do alto do Céu Vós velais dia e noite sobre mim e sobre aqueles que esperam em Vós; eu estou tão intimamente convencido de que jamais pode faltar nada quanto se espera tudo de Vós, que resolvi viver daqui para o futuro sem nenhuma apreensão, e me descarregar inteiramente sobre Vós em todas as minhas iniqüidades.
Doce Virgem Maria Vós me estabelecestes na mais inabalável confiança.
Ó, mil vezes obrigado por uma graça tão preciosa. Eu ficarei daqui por diante em paz sob vosso coração tão puro.
Eu não pensarei mais senão em Vos amar, em Vos obedecer, enquanto Vós gerireis, Vós mesma, minha boa Mãe, os meus mais caros interesses.
Ó doce Virgem Maria, que entre os filhos dos homens, uns esperem sua felicidade de sua riqueza, outros a procurem em seus talentos; que outros se apoiem sobre a inocência de sua vida ou sobre o rigor de sua penitência, ou sobre o fervor de suas orações, ou sobre o grande número de suas boas obras.
Por mim, ó Mãe, eu esperarei só em Vós, só em Vós depois de Deus. E todo o fundamento de minha esperança será minha confiança mesmo em vossa bondade materna.
Doce Virgem Maria, os maus poderão me roubar a reputação e o pouco de bem que possuo. As doenças poderão me tirar as forças e a faculdade exterior de vos servir. Eu poderei mesmo, infelizmente, minha terna Mãe, perder vossas boas graças pelo pecado.
Mas minha amorosa confiança em vossas maternais bondades, esta jamais eu perderei. Eu a conservarei, essa confiança inabalável até o meu último suspiro. Todos os esforços do inferno não ma roubarão.
Eu morrerei repetindo mil vezes vosso nome bendito e fazendo repousar sobre vosso Imaculado Coração toda a minha esperança.
E porque estou eu tão firmemente seguro de esperar sempre em Vós, senão é porque Vós me ensinastes, Vós mesma, ó doce Virgem, que Vós sois toda misericórdia e que não sois senão misericórdia?
Eu estou, portanto, seguro, ó boa e amorosa Mãe, eu estou seguro de que Vos invocarei sempre e estou seguro de que Vós me consolareis.
Eu vos agradecerei sempre porque Vós sempre me aliviareis. Eu Vos servirei sempre porque Vós sempre me ajudareis.
Eu vou amarei sempre porque Vós sempre me amareis. Eu obterei tudo de Vós porque vosso amor, sempre generoso, irá além de minha esperança.
Sim, é de Vós só, ó doce Virgem que, apesar de minhas faltas, eu espero e espero o único bem que desejo, o meu Jesus, no tempo e na eternidade.
É de Vós só, porque Vós é que meu Divino Salvador escolheu para me dispensar todos os favores, para me conduzir seguramente até Ele.
Sim, é de Vós Mãe, que depois de ter aprendido a participar das humilhações e sofrimentos de vosso Divino Filho, me introduzireis na glória e nas delícias, para O louvar e bendizer, junto a Vós e conVosco, nos séculos dos séculos. Assim seja.”
Eis a minha maior confiança e toda a razão da minha esperança. “Ecce mea maxima fiducia et tota ratio spei mei“
Comentário do professor Plinio Corrêa de Oliveira em 3 de janeiro de 1967
É uma oração verdadeiramente maravilhosa. Apresenta um misto de humildade e de arrojo, de ternura e de varonilidade, difícil de se encontrar reunidas. De um lado, a ternura para com Nossa Senhora chega ao último limite a que pode chegar. Mas, de outro lado, no modo de expressá-la, nada há de efeminado e de indigno de um varão.
Tem a suavidade própria a uma pomba, mas também um vôo de águia! Vai até ao Coração Imaculado de Maria, com um desembaraço e uma intimidade, que verdadeiramente espanta.
São Bernardo mostra no que consiste essa virtude da confiança e dá as razões dela. Consiste fundamentalmente em saber que Nossa Senhora é toda ternura e nEla não há senão ternura.
Quer dizer, não há severidade, não há juízo, não há justiça. E como essa é a disposição dEla em relação a todos, é lógico, é forçoso, é inevitável, que cada pessoa – que saiba que isso é assim – tenha nEla uma confiança sem limites.
Confiança no quê? Em primeiro lugar, quanto à vida eterna. Em segundo lugar, quanto à vida terrena. É uma confiança que abrange portanto também os interesses terrenos verdadeiramente ditos.
É uma oração que qualquer fiel pode fazer. E se entende que cada um, naquilo que seus interesses terrenos têm de legítimo, deve confiar em Nossa Senhora.
Pedir a Nossa Senhora que Ela tome conta e faça por nós aquilo que não somos capazes de fazer. A Providência tem desígnios insondáveis. Pode, portanto, querer nos sujeitar, de um momento para o outro, a um sofrimento que não prevíamos. Ademais, a Providência, quer, genericamente, daqueles a quem Ela ama, que passem por muitos sofrimentos. Portanto, nesta vida, temos de sofrer.
Sem embargo disso, há interesses terrenos que, por um movimento interno da graça, ou por um certo senso das proporções, nós percebemos que, muito provavelmente, a Providência não quer que se percam. Estes interesses nós devemos entregar à Nossa Senhora. Ela velará por eles, Ela os protegerá, de tal maneira que nós não temos de estar com ansiedade, não temos de estar com torcidas, não temos de estar com sofreguidão e falta de distância psíquica.
Na pior das nossas preocupações, devemos nos lembrar que quando a tormenta tenha chegado até o auge, é hora de preparar o incenso e todo o necessário para cantar o Magnificat, porque aí Nossa Senhora intervirá e nos salvará. Não devemos nos colocar num ponto de vista, péssimo, assim:
“Eu, por mim, resolvo os assuntos comuns com minhas forças e minha capacidade. Nossa Senhora resolva o extraordinário”. Isso é péssimo. Porque Nossa Senhora, como Medianeira onipotente junto a Deus, nós precisamos do auxílio dEla para as coisas grandes como para as coisas corriqueiras.
Ainda que a pessoa tenha a dor enorme de ter ofendido gravemente a Nossa Senhora, é preciso continuar a confiar nEla. Porque se a gente desconfiar dEla, então, está tudo perdido. A porta do Céu é Ela. E se nós, pela nossa falta de confiança, fecharmos a porta do Céu, nós mesmos nos condenamos.
Pelo contrário, se continuarmos a confiar nEla, Ela pelo menos receberá de nós essa forma de glória, que é a do pecador que confia nEla.
O pecado é um atentado à glória de Nossa Senhora. Mas o pecador que continua a confiar nEla dá-lhe uma forma de glória que nenhum justo pode dar, e que é exatamente a glória da confiança daquele que ofendeu.
Então devemos esperar porque o pior do pecado é o fato de que a pessoa, depois disto, perder a confiança em Deus. Aí é que vem o pior pecado.
Para quem confia, o caminho ainda está aberto. Mesmo para o pecado do tíbio – a quem Nosso Senhor diz: “Eu te vomitarei da minha boca” – ainda continua a haver confiança.
A oração de São Bernardo diz essa coisa admirável: que quando chegar a hora da morte, ele espera que a confiança dele seja tal que ele morra com o coração recostado sobre o Imaculado Coração de Maria. É expressão naturalmente simbólica, mas que tem um valor enorme.
Dá uma esperança muito grande de que Nossa Senhora, na hora da morte, nos ajude nesse transe. Ainda que nossa morte deva ser muito árida, ainda nesse caso será para nossa alma passar o menor tempo possível no Purgatório e ir para o mais alto possível do Céu.
Este é o pensamento admirável contido nessa oração de São Bernardo. Ela é carregada de sentido e admirável sob todos os pontos de vista.