O nascimento de Maria marcou o início de uma nova era na história da salvação
Hoje a Igreja celebra com júbilo a Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria. Entre as festas marianas, esta ocupa um lugar especial, pois marca o início de uma nova era na história da salvação.
O nascimento de Maria foi a aurora da Redenção, o prenúncio da vitória de Jesus Cristo sobre o pecado e a morte.
A hierarquia do culto cristão
Para compreender melhor essa grandeza, convém lembrar que a Igreja, em sua sabedoria milenar, sempre soube distinguir os diversos níveis de honra que devemos tributar:
- Latria – a adoração devida somente a Deus e a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo Encarnado.
- Dulia – a veneração prestada aos santos, reconhecendo neles a obra da graça.
- Hiperdulia – um culto singular reservado unicamente à Virgem Santíssima, tão elevada acima de todos os anjos e santos que a própria Igreja precisou criar uma categoria especial para exprimir essa veneração única.
Assim, essa distinção revela não apenas precisão doutrinária, mas também a percepção do lugar incomparável que Nossa Senhora ocupa em toda a criação.
Se os santos são espelhos da graça, Maria é a sua plenitude visível, a criatura “cheia de graça” desde o primeiro instante de sua existência.
O sentido da Natividade de Nossa Senhora
Partindo dessa realidade, entende-se por que a festa do Nascimento da Virgem ocupa um lugar privilegiado entre todas as festas marianas. Sua vinda ao mundo marca uma nova etapa na história da salvação.
O Antigo Testamento, que narra a longa espera pelo Messias, pode ser dividido em duas fases: antes e depois da vinda de Maria.
Sem ela, os clamores da humanidade permaneceriam estéreis; com ela, a esperança floresceu. Sua presença na terra inaugurou uma nova corrente de graças.
Assim, Maria foi a “Porta do Céu” pela qual o Salvador entrou na história. Sua própria existência já era um anúncio da Encarnação, antecipando a vitória de Cristo sobre o pecado.
Desde o seu nascimento, a Mãe de Deus manifesta também sua maternidade espiritual sobre a Igreja, exercendo a missão única de medianeira universal de todas as graças.
O reflexo dessa festa hoje
Do mesmo modo, celebrar a Natividade de Nossa Senhora não é apenas recordar um fato histórico, mas também compreender seu significado para a nossa época.
Assim como no Antigo Testamento o nascimento de Maria foi a aurora da Redenção, também hoje sua festa é um chamado à esperança diante das trevas espirituais que se espalham pelo mundo.
De fato, a Providência, em cada tempo, suscita filhos e devotos de Maria que, movidos pela graça, mantêm viva a chama da fé.
Esses fiéis, muitas vezes simples e escondidos aos olhos do mundo, dedicam-se à oração, à penitência e à difusão da devoção mariana.
São eles que, como pequenas tochas, iluminam a noite de pecado e preparam os caminhos para a vitória prometida por Nossa Senhora em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará.”
Esse reinado espiritual, chamado de Reinado do Imaculado Coração de Maria, não é apenas uma esperança piedosa, mas uma promessa profética.
Por isso, quando se diz que a Providência suscita filhos de Maria em nossos dias, entende-se que Deus levanta almas generosas — leigos, religiosos e sacerdotes — que, sustentados pela graça, difundem a devoção ao Imaculado Coração, enfrentam o neopaganismo atual e preparam o terreno para o triunfo de Maria.
Uma repetição simbólica
Portanto, de certo modo, cada vez que celebramos o nascimento da Virgem, repetimos espiritualmente aquele momento bendito em que uma nova aurora despontou na história.
Assim como seu nascimento prenunciava a vitória de Cristo sobre o paganismo antigo, também hoje prenuncia a derrota do neopaganismo contemporâneo.
Aqueles que lutam pela causa de Nossa Senhora são como faróis que anunciam a vitória vindoura. Sua oração, sacrifício e apostolado apressam a realização da promessa: “Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará.”
Um chamado à oração e confiança
Enfim, o nascimento da Virgem é mais que uma recordação: é um convite à confiança.
Quem deseja ver a vitória da Igreja e a derrota das forças do mal deve unir-se a Maria e rezar pela vinda de seu Reino.
Assim como a aurora anuncia o sol, a Natividade de Nossa Senhora anuncia o triunfo que transformará a face da terra.
Celebrar esta festa é pedir a Deus, com insistência filial: “Apresse-se, Senhor, o dia do triunfo de Vossa Mãe, para que a longa noite de pecado seja vencida pela luz de Maria.”
Nota: O texto acima foi adaptado para publicação editorial com base em uma conferência informal proferida pelo Professor Plinio Corrêa de Oliveira (1908–1995) em 8 de setembro de 1966.